O Apocalipse Revelado - Éfeso
O Apocalipse Revelado: Carta à Igreja de Éfeso*
Emanuel Swedenborg
Todas as coisas agora reveladas são para uso da posteridade, e podem parecer sem explicação. Na visão dos mistérios, as "sete estrelas" significam a Irmandade nos céus, e os "sete candelabros", a Irmandade na terra. A Irmandade está nos céus igualmente como na terra; pois a Palavra está nos céus assim como na terra, e há doutrinas e pregações celestiais. A razão pela qual a Irmandade nos céus é representada pelas "sete estrelas", é porque é dito que "as sete estrelas são os anjos das sete igrejas", e por "anjo" quer dizer uma hoste celestial. No mundo espiritual, pode ser vista uma expansão cheia de estrelas, como no mundo natural, e essa visão é das hostes angelicais no céu. Cada hoste brilha como uma estrela diante daqueles que estão abaixo. Já o "sete" não significa sete, mas todos os que são da Irmandade, de acordo com a afinidade de cada um, portanto os "anjos das sete igrejas" significa toda a Irmandade nos céus.
E os sete candelabros que viste são as sete igrejas, significando a nova Irmandade na terra, que é a Nova Jerusalém descendendo do Senhor a partir do novo céu. Por "sete candelabros" não se entendem sete igrejas, mas a Irmandade com um todo, que em si mesma é uma, mas variada conforme a afinidade. Essas variações podem ser comparadas às várias diademas na coroa de um rei; e também podem ser comparadas aos vários membros e órgãos em um corpo perfeito, que, no entanto, formam um só. A perfeição de toda forma existe a partir de várias coisas sendo adequadamente arranjadas em sua ordem. Por isso, a nova Irmandade inteira é descrita quanto às suas variações pelas "sete igrejas".
Dessa forma, a mensagem da Revelação é dirigida a todas as irmandades no mundo cristão: àquelas que primordialmente consideram as verdades da doutrina e não a prática do bem, representadas pela igreja de Éfeso; àquelas que estão na prática do bem e em falsidades quanto à doutrina, representadas pela igreja de Esmirna; àquelas que colocam todo o valor da irmandade em boas ações e não em verdades, representadas pela igreja em Pérgamo; àquelas que estão na fé vinda da caridade junto com a fé separada da caridade, representadas pela igreja em Tiatira; às que estão em um culto morto, sem caridade e fé, descritas pela igreja em Sardes; às que estão em verdades vindas do bem do Senhor, descritas pela igreja em Filadélfia; e às que alternadamente acreditam por si mesmos e pela Palavra, e assim profanam coisas sagradas, descritas pela igreja em Laodicéia. Todas essas são chamadas para a nova irmandade, que é a nova Jerusalém.
Ou seja, estas mensagens tratam das sete irmandades, que é a Nova Jerusalém, formada por todos aqueles na irmandade cristã que têm alguma religiosidade, que se aproximam do Deus Único e se arrependem das más obras. Os demais, que não se aproximam do Deus Único por negar a divindade no ser humano, e que não se arrependem de suas más obras, estão de fato na irmandade, mas a irmandade não está neles.
Carta à Igreja de Éfeso
"Escreve ao anjo da igreja de Éfeso: Estas coisas diz aquele que segura as sete estrelas em sua mão direita e que anda no meio dos sete candelabros de ouro"
Significa direcionar-se àqueles que primordialmente consideram as verdades da doutrina e não a prática de vida. Está escrito para "o anjo" daquela irmandade, porque por anjo entende-se uma sociedade angelical correspondente àquela irmandade, como acima mencionado. “Aquele que segura as sete estrelas em sua mão direita" é o Senhor, e "as sete estrelas em sua mão direita" são todos os conhecimentos de bem e verdade na Palavra, que vêm do Senhor, aquele de quem todos os que são de sua irmandade recebem iluminação. Aqui é dito "andar" porque "andar" significa viver, e "no meio" significa no mais íntimo e, a partir daí, em tudo.
"Eu conheço as tuas obras, e o teu trabalho e perseverança. E que não podes suportar o mal. E puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e não são, e os achaste mentirosos. E suportaste e tens perseverança. E por amor ao meu nome tens trabalhado e não desfalecido"
Significa que Ele vê todos os interiores e exteriores do homem ao mesmo tempo. "Obras" são frequentemente mencionadas em Apocalipse, mas poucos sabem o que se entende por obras. Isso é conhecido: que dez homens podem realizar obras que externamente parecem iguais, mas que são dissimilares entre si, porque procedem de fins e causas diferentes, sendo o fim e a causa que tornam as obras boas ou más; pois toda obra é uma obra da mente, portanto, a qualidade da mente é refletida na obra. Se a mente é caridade, a obra se torna caridade; mas se a mente não é caridade, a obra não se torna caridade, embora ambas possam parecer semelhantes externamente.
As obras aparecem para os homens em forma externa, mas para os anjos em forma interna; e para o Senhor, sua qualidade é aparente do mais íntimo ao mais externo. Obras em sua forma externa aparecem como a casca dos frutos, mas obras em sua forma interna aparecem como o interior dos frutos, onde há partes comestíveis inúmeras, e no meio sementes, que também contêm coisas inumeráveis, que são tão minuciosas que escapam ao olho mais aguçado, e que estão além da esfera intelectual do homem. Assim são todas as obras, cuja qualidade interna o Senhor vê sozinho, e que os anjos também percebem do Senhor, enquanto o homem as realiza.
Eles não podem suportar que o mal seja chamado de bem, ou o inverso, porque isso é contrário às verdades da doutrina. Que eles examinam aquelas coisas na irmandade que são consideradas o bem e a verdade, quando são, de fato, mal e falsidade. Conhecer o bem, se é bem ou mal, é da doutrina, e está entre suas verdades, mas fazer o bem ou o mal é da vida; isso é dito, portanto, daqueles que primordialmente consideram as verdades da doutrina, e não a prática do bem.
Por 'apóstolos' não se entendem os apóstolos, mas todos aqueles que ensinam o bem e a verdade da irmandade e, no sentido abstrato, o próprio bem e a verdade na doutrina. Por 'mentirosos' se entendem aqueles que estão em falsidades e, abstratamente, as próprias falsidades. ‘Mentiras' no sentido espiritual não são nada mais do que falsidades.
Na Palavra de Deus, o "nome" do Senhor não quer dizer seu nome, mas tudo pelo qual ele é adorado. E porque ele é adorado na irmandade de acordo com a doutrina, por seu "nome" se entende tudo da doutrina, e, no sentido universal, tudo da religião. A razão pela qual essas coisas são denominadas pelo "nome" do Senhor é porque no céu não são dados outros nomes senão aqueles que envolvem a qualidade de alguém, e a qualidade de Deus é tudo aquilo pelo qual ele é adorado.
"Mas tenho contra ti que deixaste teu primeiro amor. Lembra-te, portanto, de onde caíste, arrepende-te e faz as primeiras obras. Senão virei a ti rapidamente e removerei o teu candelabro do seu lugar, a menos que te arrependas"
Significa que isto é contra eles, que não consideram a prática do bem em primeiro lugar, o que, no entanto, foi e é feito no início de toda irmandade. Isto é dito a esta irmandade, porque por ela são entendidos aqueles na irmandade que consideram principalmente ou em primeiro lugar as verdades da doutrina, e não a prática do bem; quando, na verdade, a prática do bem deve ser considerada em primeiro lugar, isto é, primariamente; pois na medida em que um homem está na prática do bem, na mesma medida ele está realmente nas verdades da doutrina, mas não o contrário. A razão é que a prática do bem abre os interiores da mente, e, sendo estes abertos, as verdades aparecem em sua própria luz, daí sendo não apenas compreendidas, mas também amadas. É diferente quando os ensinamentos doutrinários são considerados primariamente ou em primeiro lugar. As verdades podem então ser conhecidas, mas não são vistas interiormente e amadas com afeto espiritual. Cada irmandade, em seu início, considera a prática do bem em primeiro lugar, e as verdades da doutrina em segundo; mas à medida que a irmandade declina, começa a considerar as verdades da doutrina em primeiro lugar, e a prática do bem em segundo; e, no fim, considera apenas a fé, separando-a da bondade e o amor, que ficam esquecidos.
Cada homem, a princípio, considera as verdades da doutrina como a prioridade; no entanto, enquanto fizer isso, é como um fruto não maduro. Mas aquele que é regenerado, depois de assimilar as verdades, coloca a prática do bem em primeiro lugar e, na medida em que o faz, amadurece como um fruto. Quanto mais amadurece, tanto mais a semente nele se torna prolífica.
Por "candelabro" se entende a luz da irmandade; portanto, "removê-lo de seu lugar" significa remover o esclarecimento, para que não vejam mais as verdades à sua luz, e, por fim, para que não as vejam mais. Isto segue do que foi dito acima, a saber, que se as verdades da doutrina forem consideradas prioritárias, ou em primeiro lugar, podem ser conhecidas, mas não vistas interiormente e amadas com afeição espiritual; por isso, elas perecem gradualmente. Ver as verdades em sua própria luz é vê-las a partir da mente interior do homem, que é chamada de mente espiritual, e esta mente é aberta pela caridade; e quando é aberta, a luz e a afeição de entender as verdades fluem do céu, do Senhor. Daí vem o esclarecimento. O homem que está nesse esclarecimento reconhece as verdades assim que as lê ou ouve; mas não aquele cuja mente espiritual não está aberta, que é aquele que não está na prática do bem, embora possa estar nas verdades da doutrina.
"Mas tens isto, que detestas as obras dos nicolaítas, que eu também detesto. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas"
Significa que sabem disso a partir de suas verdades, e por isso não querem honrarias por suas obras, porque isso é contrário ao mérito e à justiça do Senhor. Que "as obras dos nicolaítas" são por honrarias, me foi dado a saber por revelação. No entanto, todos aqueles que colocam as verdades da fé em primeiro lugar e os bens da caridade em segundo fazem obras por honrarias, mas não aqueles que colocam os bens da caridade em primeiro lugar. A razão é que a caridade genuína não deseja mérito, pois ama fazer o bem, porque está nele e age a partir dele; e a partir do bem, olha para o Senhor; e a partir das verdades, sabe que todo bem vem dele; por isso, tem aversão às honrarias. Agora, aqueles que consideram as verdades da fé em primeiro lugar e não podem fazer obras senão por honrarias, e sabem que essas devem ser detestadas, se não mantiverem a caridade em primeiro lugar, farão obras que devem ser detestadas. É dito que isto é contrário ao mérito e à justiça do Senhor; pois aqueles que colocam mérito nas obras, atribuem justiça a si mesmos, pois dizem que a justiça está do seu lado porque mereceram, quando, na verdade, é a maior injustiça, porque só o Senhor tem mérito e só ele faz o bem através deles.
"Ouvir" significa tanto perceber quanto obedecer, pois uma pessoa presta atenção para perceber e obedecer; que ambas essas coisas são significadas por "ouvir" é evidente pelo discurso comum, no qual se fala de ouvir e de atender a alguém; o último significando obedecer, e o primeiro perceber. Que "ouvir" tem esses dois significados vem do princípio da correspondência; pois aqueles que estão em audição no céu, estão em percepção e ao mesmo tempo em obediência. O "Espírito" que fala às irmandades significa a verdade divina da Palavra; e por "igrejas", toda a irmandade no mundo cristão.
"Ao que vencer, dar-lhe a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus"
Significa aquele que luta contra seus males e falsidades e é reformado. “Comer” significa apropriar-se, e “a árvore da vida” significa o Senhor, que é o bem do amor; portanto, “comer da árvore da vida” significa apropriar-se do bem do amor do Senhor.
“Comer” significa apropriar-se porque, assim como o alimento natural é apropriado para a vida do corpo humano quando é consumido, o alimento espiritual é apropriado para a vida da alma quando é recebido. “A árvore da vida” representa o Senhor quanto ao bem do amor, porque nada mais é representado pela árvore da vida no jardim do Éden; também porque o homem tem vida celestial e espiritual a partir do bem do amor e da caridade que é recebido do Senhor. “Árvore” é mencionada em muitos lugares e significa o homem da irmandade, e no sentido universal, a própria irmandade; e pelo seu “fruto”, o bem da vida; a razão é que o Senhor é “a árvore da vida” de onde vem todo o bem com o homem da irmandade e na irmandade.
É dito o bem do amor e da caridade, porque o bem do amor é o bem celestial, que é o amor ao Senhor, e o bem da caridade é o bem espiritual, que é o amor ao próximo.
Portanto, “a árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus” significa o Senhor com o bem do amor e da caridade interiormente nas verdades da sabedoria e da fé; o bem também está dentro das verdades, pois o bem é ‘o ser’ da vida, e a verdade é ‘o existir’ da vida derivada disso. O paraíso de Deus é a verdade da sabedoria e da fé, como é evidente a partir da significação de “jardim”, que significa sabedoria e inteligência, porque “árvores” significam os homens da irmandade, e seus “frutos”, a prática do bem; não há outro significado para “o jardim do Éden”, pois ele descreve a sabedoria de Adão.
O homem da irmandade também é como um jardim quanto à inteligência, quando ele está no bem do amor do Senhor, porque o calor espiritual que o vivifica é o amor, e a luz espiritual é a inteligência proveniente dele. É sabido que jardins neste mundo florescem por meio do calor e da luz; é o mesmo no céu. No céu aparecem jardins paradisíacos, com árvores frutíferas conforme sua sabedoria proveniente do bem do amor do Senhor; e ao redor daqueles que estão na inteligência e não no bem do amor, não aparecem jardins, mas grama; mas ao redor daqueles que estão na fé separada da caridade, nem mesmo grama, mas areia.





