Natal e a Tradição Cristã
A Celebração de Natal e a Data do Nascimento de Jesus: Uma Tradição Cristã desde os Primórdios
M. I.
Durante o período natalino, surgem debates sobre a veracidade da data do nascimento de Jesus, muitas vezes acompanhados de alegações de que o Natal é uma festividade de origem pagã. Desde os tempos antigos, registros indicam a celebração litúrgica do nascimento de Cristo nesse dia, muito antes de o Cristianismo ser legalizado. Além disso, a conexão entre a Anunciação a Maria, a concepção de João Batista e o nascimento de Jesus reforça a veracidade do dia 25 de dezembro.
Os testemunhos dos Padres da Igreja desmentem a ideia de que este período foi estabelecido aleatoriamente. O Papa São Telésforo, no século II, instituiu a Missa do Galo na véspera de Natal. Teófilo, bispo católico do mesmo século, enfatizou a importância de comemorar o aniversário de Nosso Senhor em 25 de dezembro. Santo Hipólito, no século III, registrou a data exata do nascimento de Cristo, afirmando que ocorreu em uma quarta-feira, 25 de dezembro.
Santo Agostinho, por volta do ano 400 d.C., observou que os donatistas cismáticos já celebravam o Natal nesse mesmo dia, indicando que a tradição da Igreja de Roma remonta a essa época desde o século IV. Os testemunhos de outros Padres da Igreja, como São Jerônimo, São Justino Mártir e Tertuliano, corroboram a celebração do Natal em 25 de dezembro antes mesmo da oficialização da nova religião por Constantino.
Uma descoberta arqueológica e textual conduzida pelo renomado professor Shemarjahu Talmon, da Universidade Hebraica de Jerusalém, lançou luz sobre a cronologia precisa dos eventos que antecederam o nascimento de João Batista, proporcionando uma nova perspectiva aos relatos bíblicos.
O Evangelho de Lucas, com sua minuciosa atenção aos detalhes, menciona que Zacarias, pai de João Batista, pertencia à classe sacerdotal de Abias e desempenhava suas funções no Templo durante o turno de sua classe. No antigo Israel, as 24 classes sacerdotais se revezavam no serviço litúrgico, prestando-o por uma quinzena, duas vezes por ano.
A questão intrigante era determinar o momento específico em que a classe de Abias, a oitava no elenco oficial, realizava suas obrigações no Templo. O professor Talmon, utilizando pesquisas e textos encontrados nos rolos essênios de Qumran, conseguiu decifrar a ordem cronológica das classes sacerdotais. Surpreendentemente, descobriu que a classe de Abias servia no Templo na última quinzena de setembro. A memória persistente desses eventos nas igrejas do Oriente reforça a autenticidade da tradição.
Essa revelação lançou uma nova luz sobre a tradição dos cristãos orientais, que situam o anúncio do anjo a Zacarias entre os dias 23 e 25 de setembro. O que parecia ser um elemento mítico na narrativa bíblica ganha uma comprovação sólida e histórica. A cadeia de eventos se desenrola ao longo de 15 meses: o anúncio a Zacarias em setembro, seguido pela concepção de João no dia seguinte; seis meses depois, em março, o anúncio a Maria; três meses após, em junho, o nascimento de João; e, finalmente, após seis meses, o nascimento de Jesus em 25 de dezembro.
Ao explorarmos os registros de renomados autores cristãos da antiguidade, somos conduzidos a uma intricada teia temporal cujo ponto de destaque unifica essas narrativas: a fixação do nascimento de Cristo em 25 de dezembro, sua crucificação em 25 de março e a Ressurreição no dia 27.
Para entender tais registros, é preciso saber que o antigo sistema romano de datação utilizava os termos “calendas, nonas e idos” para representar, respectivamente, o primeiro, o sétimo ou nono e o décimo quinto dias do mês. O número antes do nome era subtraído da data. Por exemplo: o oitavo dia das calendas de janeiro corresponde ao nosso 25 de dezembro, pois subtrai-se 8 dias a partir de 1º de janeiro.
Desta forma, em muitos registros históricos são confirmadas as datas tradicionais cristãs. João Malalas (578 d.C), por exemplo, em sua Cronografia, registra que “no 4º mês do 42º ano de Augusto, no 8º das calendas de janeiro (25 de dezembro), na 7ª hora da noite, Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu em Belém (...). Ele foi batizado no Jordão no 6º dia do mês de Audynae (janeiro). No 23º de março, o 3º dia da lua, o 5º dia da semana, na 5ª hora da noite, Ele foi levado perante Caifás (…). Nesse momento, o sol foi privado da sua luz e as trevas cobriram toda a terra”. Já Orósio (418 d.C.), em sua História contra os Pagãos, conta que “Cristo nasceu em dezembro do ano 1 a.C.”, e que “no ano 33, a Paixão ocorreu no 8º dia das calendas de abril (25 de março)”. Cassiodoro (580 d.C.), em sua Crônica, relata que “a Paixão de Cristo ocorreu no ano 18 de Tibério, no 8º das calendas de abril (25 de março), durante um eclipse do sol”. No mesmo diapasão, Sulpício Severo (420 d.C.), em sua História Sagrada, afirma que “Cristo nasceu no ano 33 de Herodes, no 8º dia das calendas de janeiro (25 de dezembro)”. Por sua vez, Epifânio (403 d.C.), em suas obras Do Ano do Natal de Cristo e Do Ano da Paixão de Cristo, registra que “Cristo nasceu no ano 45 do calendário juliano, no 4º ano da 194ª Olimpíada”, e que “a Sua Paixão ocorreu no 18º ano de Tibério, em 25 de março, e a ressurreição, em 27”.
Conclusão
À luz dos testemunhos históricos dos Padres da Igreja, das revelações proporcionadas pelas recentes descobertas arqueológicas e dos estudos meticulosos conduzidos pela respeitada Universidade Hebraica, somados aos registros detalhados de diversos autores, uma conclusão inequívoca emerge: a autenticidade da tradicional data do nascimento de Jesus.
Contrariando a ideia de uma inovação tardia, a celebração do Natal em 25 de dezembro se revela como uma prática profundamente enraizada na tradição cristã. As investigações cuidadosas de renomados estudiosos e a harmonização cronológica dessas fontes apontam para a solidez histórica desse dia, destacando-a como um marco significativo na história da humanidade.
Assim, a festividade natalina não é apenas uma convenção litúrgica; é um elo com as raízes mais profundas da tradição cristã, uma ligação com os ensinamentos e a mensagem de esperança trazidos por Aquele cujo nascimento celebramos. O Natal em 25 de dezembro transcende o mero calendário; é a comemoração do advento do Senhor da paz e da redenção da humanidade.





