João Batista: Entrevista Póstuma
João Batista: Voz no Deserto, Luz no Caminho*
(simulação de uma entrevista fictícia com base em dados biográficos reais)
Nesta entrevista fictícia, encontramos João Batista em um momento singular de sua vida, confinado em um cárcere por suas convicções e sua ousada missão espiritual. João, conhecido como o precursor do Messias, emerge não apenas como um personagem bíblico, mas como um ser humano imerso em sua fé e na profundidade de seus ensinamentos. Educado entre os essênios, uma comunidade ascética que valorizava a pureza espiritual e a preparação para a chegada do Salvador, João encontrou seu propósito pregando o arrependimento e o batismo nas margens do Rio Jordão.






Revista Tradição (RT): João, antes de começarmos, gostaria de expressar a honra que é estar aqui falando com você, mesmo em circunstâncias tão difíceis. Agradeço profundamente por se dispor a conceder esta entrevista aqui do cárcere. Podemos iniciar falando sobre sua descendência?
João Batista (JB): Certamente, irmão, é uma alegria poder falar com vocês, mesmo em situação adversa, pois nosso Senhor sabe de todas as coisas e com Ele vencemos todos os obstáculos; só Ele conhece com perfeição nossos corações e consciências. De minha parte, sou filho de Zacarias e Isabel. Meu pai era sacerdote da classe de Abias e minha mãe, também descendente de Aarão, era prima de primeiro grau de Maria, mãe de Jesus.
RT: E como foi seu nascimento?
JB: Meu nascimento foi cercado por eventos extraordinários. Meus pais eram justos diante de Deus, mas minha mãe era estéril e ambos já estavam avançados em anos. Enquanto meu pai estava oferecendo incenso no templo, um anjo do Senhor lhe apareceu e anunciou que suas orações foram ouvidas e que minha mãe daria à luz um filho, que se chamaria João. Meu pai, por sua incredulidade, ficou mudo até o meu nascimento. Isto causou grande espanto entre nossos vizinhos, pois além de verem um casal idoso tendo um filho, viram meu pai recuperar a fala subitamente quando confirmou meu nome.
RT: Por que você escolheu a região desértica às margens do Jordão para iniciar a sua missão?
JB: Desde a infância, cresci e fui fortalecido em espírito com jejuns, oração e meditação, até o dia de minha manifestação a Israel. Quando chegou o momento de iniciar meu ministério público, escolhi o deserto às margens do Jordão, pois esse local tem um significado espiritual profundo, lugar de solidão e contemplação, adequado para a mensagem de arrependimento que eu trago. Esta região do Jordão tem um histórico sagrado, é um ambiente de santidade onde os essênios realizam suas cerimônias e estabelecem comunidades afiliadas à Grande Fraternidade de Iniciados – mestres, sacerdotes e governantes – com sede no Egito.
RT: Qual sua relação com os essênios?
JB: Muito jovem ainda, fui chamado a essa comunidade para iniciar, silenciosamente, minha missão. Os essênios vivem de forma austera, afastados das corrupções do mundo, e dedicam suas vidas à cura de doentes através de sua terapêutica ancestral, ao estudo místico das escrituras judaicas e à prática da meditação e purificação, especialmente através da água.
RT: E você introduziu essas práticas em seu ministério?
JB: Sim, em especial a imersão na água, tradição essênia que remonta aos rituais da Grande Fraternidade. Este ato de purificação é tanto físico quanto espiritual. O que fiz foi adaptá-lo à minha missão, aos meus propósitos, instituindo o batismo como um símbolo de arrependimento e de renascimento para uma nova vida. É um sinal visível de um compromisso consigo mesmo, perante a Deus, de seguir o Salvador com toda pureza d’alma possível, trilhando sua Senda com retidão e desembaraço.
RT: Conte-nos sobre seu encontro com Jesus no rio Jordão. Você já sabia que Ele era o Messias?
JB: Sim, eu sabia, assim como todos os Alto Iniciados da Grande Fraternidade, que mandou mensageiros para o mundo todo anunciando a chegada do Messias prometido, e eu fui destacado para Palestina, minha terra natal. Quando Jesus veio até mim para ser batizado, o que inicialmente hesitei, minha visão espiritual se abriu num grande clarão e vi o Espírito de Deus descer sobre Ele, e ouvi a Voz Divina em minha consciência revelando Sua verdadeira Natureza.
RT: Como foi ficar diante de Jesus?
JB: Indescritível. Um momento de profunda revelação e humildade. Desde o início do meu ministério, soube que minha missão era preparar o caminho para o verdadeiro Salvador, que já estava entre nós. Quando vi Jesus se aproximando para ser batizado, vi sua majestade e santidade. Eu disse: “Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” Mas Ele respondeu: “Deixa por agora, pois assim nos convém cumprir toda a justiça”.
Estar diante do Messias é estar na presença do puro amor e da graça divina. É um sentimento de completa realização da minha missão. Tudo o que eu havia pregado, cada batismo que realizei, cada palavra que clamei no deserto apontava para aquele momento. Jesus é o Cordeiro de Deus, que vem para retirar a maldade dos corações. Minha alegria é completa ao ver que Ele chegou para trazer a redenção prometida. É o cumprimento das profecias, a resposta às esperanças de nosso povo.
RT: E como você ficou conhecido como a Voz que clama no deserto?
JB: Após o batismo de Jesus, enquanto Ele pregava pelas cidades da Galileia e ia à Judeia para os dias de festa, eu continuei meu ministério no vale do Jordão. Foi nesse momento que alguns judeus enviaram sacerdotes e levitas de Jerusalém para me perguntar: Quem és tu? Eu confessei, e não neguei: Eu não sou o Cristo. Eles insistiram: Então, és tu Elias? E eu respondi: Não sou. És tu o profeta? O que dizes de ti mesmo? Eu então declarei: Eu sou a voz que clama no deserto: endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.
Entre os muitos ouvintes que afluíam a mim, alguns permaneceram comigo, formando um grupo de aproximadamente trinta discípulos. A esses exortei a jejuar e ensinei formas especiais de oração. Entre eles estava André. Um dia, estando Jesus ao longe, repeti: “Eis o Cordeiro de Deus”. Então André, com outro discípulo meu, seguiu Jesus.
Muitos são os chamados, poucos os escolhidos. Por isso, sou a voz que clama no deserto, chamando todos a endireitar seus caminhos para receber o Filho de Deus.
RT: Mas, quando Jesus fala de ti às multidões, deixa claro que tu és o Elias precursor.
JB: Eu sou eu, Elias é Elias. Esta pergunta deve ser feita a Jesus, pois foi Ele quem disse. O que posso dizer é que, quando o anjo apareceu a meu pai, disse que eu viria "no espírito e poder de Elias" para preparar o caminho do Senhor.
RT: Muitos grupos religiosos não aceitaram suas palavras. Por quê?
JB: Minha mensagem de arrependimento e conduta reta encontram resistência, especialmente entre os fariseus e saduceus. Eles estão mais preocupados com suas tradições e posição social do que com a verdadeira penitência e preparação para seguir o Messias e seu Reino. Minha denúncia de hipocrisia e pecados provocou antagonismo. Sua falta de fé obscurece sua visão e seus corações estão fechados à verdade.
RT: Por qual razão você está aqui no cárcere?
JB: Fui preso por ordem de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia e da Peréia. Herodes casou-se com Herodias, esposa de seu meio-irmão Filipe, o que era um ato de adultério público. Eu não hesitei em repreendê-lo por esse pecado e por suas outras más ações. Herodias, ressentida com minhas denúncias, influenciou Herodes a me prender. Ele teme minha influência sobre as multidões e a possibilidade de rebelião, o que apenas demonstra seu total desconhecimento de quem eu sou. Mas tudo deve acontecer conforme a vontade Divina, pois sei que minha missão já está concluída.
RT: João, agradeço sinceramente por compartilhar conosco sua sabedoria e sua jornada espiritual tão significativa. Antes de encerrarmos esta entrevista, gostaria de pedir que deixasse uma mensagem final ao novo povo de Deus que busca orientação espiritual e uma vida de fé.
JB: Meus irmãos e irmãs, que buscam a verdade e a vida em Deus, ouçam minhas palavras com o coração aberto. A mensagem que deixo é simples, mas fundamental: preparem o caminho do Senhor em seus corações. Que a humildade seja a fundação de suas ações, que a justiça seja a luz que guia seus passos, e que o amor seja o vínculo que une suas almas. Vivam em harmonia com a Vontade Divina, pois é nela que encontram a verdadeira paz e alegria que transcende todas as circunstâncias terrenas. Não se deixem desviar pelas veredas do mundo, mas sigam firmes na jornada espiritual, confiantes na promessa de redenção e vida eterna. Que a paz do Senhor esteja sempre convosco, hoje e para todo o sempre. Amém.






Nota:
* Com base em informações da Enciclopédia Católica (wikisource) e do livro A Vida Mística de Jesus, de Spencer Lewis.