Doutrina do Fogo Sagrado

HPB

dez/23

FILOSOFIA ROSACRUZ

Doutrina do Fogo Sagrado: Preceitos Bíblicos*

Swinburne Clymer

Em todos os tempos, Sacerdotes, Iniciadores e Iniciados reconheceram Deus unicamente como Luz ou Fogo.

Somente após o estabelecimento da igreja formal e da cobiça do Rei de França pelo tesouro dos Cavaleiros Templários, que estes, e outros que simbolizavam Deus como Luz ou Fogo, foram considerados como “pagãos”, “idólatras”, apesar do fato de a Bíblia, texto da igreja, assinalar no Antigo e no Novo Testamento que Deus É Luz e que Deus É Fogo; que Ele pode aparecer ao homem somente nestas formas; e que o homem só pode conhecê-Lo quando encontra a Luz dentro de si mesmo. Entre todos os autores da Bíblia, Isaías, possivelmente mais que qualquer outro, é o mais enfático em seus textos ao ilustrar este conceito Arcano. Já o único cujo coração estava cheio deste princípio, porque havia entrado na Luz, e que estava mais próximo do Nazareno, foi São João.

Como prelúdio para o procedimento de sequestrar, confiscar os vastos tesouros dos Templários, uma poderosa “propaganda” começou a convencer as massas de que estes eram idólatras; que não adoravam a Deus, senão que adoravam à luz ou fogo material; e que deveriam ser destruídos. Esta destruição era necessária para se obter sua riqueza.

Uma vez que a massa aceitou esta ideia, ela se converteu em parte dos dogmas religiosos. Isto se realizou facilmente porque, nesse período, eram poucos os que podiam ler e, em consequência, não tinham conhecimento do fato de que o livro de Isaías está consagrado quase totalmente ao conceito Espiritual de que Deus É Fogo, que o homem só pode conhecê-Lo como Fogo, e que Suas operações visíveis são no (ou pelo) Fogo ou Luz.

Até recentemente, quando se publicou a primeira edição do presente texto (1902), havia uma vasta e errônea ideia sobre o tema por parte de muitos, e os que estavam na busca do conhecimento Espiritual e aceitavam o Arcano e os conceitos Bíblicos de que Deus só pode ser conhecido realmente mediante a Luz Interior, eram condenados como não cristãos, como pagãos.

Em nosso esforço por estabelecer, tão clara e definitivamente quanto possível, que este conceito, admitido pela massa como verdade, está totalmente em erro, julgou-se essencial a preparação deste texto, e que o sincero buscador da verdade seja plenamente informado e possua um guia, desde que já tenha a inclinação para entrar na Senda que conduz ao fim.

São João diferencia entre a luz que é a vida do homem e de todas as coisas viventes, e a Luz que é Deus e o Cristos, ou o Eu Espiritual do homem:

Nele está a vida, e a vida é a luz dos homens” (Jo 1:4).

A luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (Jo 1:5).

Esta Luz É a Alma do homem, mas, enquanto o homem não despertar para o seu estado Espiritual, enquanto esta Luz não despertar, estará oculta nas trevas, no eu material do homem.

Houve um homem mandado por Deus, o qual se chamava João. Não era ele a Luz, senão para que desse testemunho da Luz. Aquela Luz verdadeira, que alumia a todo homem, veio a este mundo” (Jo 1:6,8,9).

João, aqui mencionado, foi o precursor que anunciou a vinda do Doador da Lei. João simboliza também o despertar da mente mortal ao fato de que o material não é permanente, porém que há dentro do homem uma realidade eterna que é realmente a Luz de Deus, parte de Deus, e que esta realidade – o Cristos ou Centelha Divina – pode despertar e tornar-se Crística: um Filho de Deus.

Esta Luz adormecida, uma vez desperta e integrada à Consciência, é então a Luz Verdadeira que João proclamou que estaria “vindo”, o advento, a manifestação da Alma Consciente, convertendo-se em um Irmão da Luz, um Filho de Deus, e como tal, Crístico.

A importância destas citações dos escritos de São João está no fato de que a palavra Luz simboliza o Fogo que É Deus e que pode se manifestar como a Luz Interior do homem. Este é o conceito Crístico do Arcano mais Antigo, que começa na Índia e nos ensinamentos dos Sacerdotes Iniciados e dos Iniciados Iluminados.

“… e nós anunciamos: Deus é Luz, e não há nenhuma treva nEle (1Jo 1:5).

Parece impossível que este anúncio possa ser mal interpretado como significando outra coisa senão que Deus É, ou pode ser conhecido, apenas como Luz ou Fogo; não uma Luz física, mas a Luz Espiritual do Fogo, e que Ele só é conhecido mediante o despertar da Centelha Divina Interior, a qual provém de Deus.

Porém se andamos na luz, como Ele está na luz, teremos comunhão uns com os outros (1Jo 1:7).

Quanto ao buscador da realidade, o Neófito na Senda, que tem desejo de se converter em Alma Consciente, esta é uma das mais importantes instâncias de João. "Se andamos na Luz", uma declaração positiva de que se pensamos, sentimos, desejamos e fazemos esforços para viver dentro da Lei Divina, e também para fazer tudo o que podemos para inserir Cristos, a Centelha Divina, dentro da Vida e da Manifestação, então teremos comunhão uns com os outros; isto é, seremos Irmãos da Luz, iluminados espiritualmente, Almas Conscientes, Iniciados.

Deus é Espírito; e os que O adoram, em Espírito e em Verdade é necessário que O adorem” (Jo 4:24).

As palavras Espírito e Luz têm um mesmo significado, biblicamente e no Arcano. Se as “devoções” dos Neófitos não for no Espírito, então será impossível manifestar a Luz, e a Alma não poderá entrar em contato com o Espírito ou Luz que é Deus. Os Filósofos do Fogo entendem isto claramente: daí a busca pela Luz.

Quem entrou na Luz e continua na Luz – Deus é Luz – serão Seus filhos, filhos de Deus; Irmãos da Luz, Conscientes de Alma, Iniciados. Isto é apenas possível enquanto vivam segundo a Lei Divina, tanto quanto seja humanamente possível.

Mas indo pelo caminho… repentinamente lhe rodeou um resplendor de Luz do céu. E ouviu uma Voz que lhe dizia… Ele disse: Quem és, Senhor?” (At 9:3-5)

Esta foi a experiência de Paulo ao entrar na Luz Inefável, a Iniciação de Paulo, a conquista da Consciência de Alma. Paulo perguntou: “Quem és, Senhor?”, estando plenamente consciente de que a Voz era a da Grande Luz na qual o Senhor sempre aparece a quem entra na Luz, como Ele fizera com Moisés.

“… fiz de você uma Luz para os gentios, a fim de que sejas para a salvação até do último da terra” (At 13:47).

Esta foi a segunda Iluminação de Paulo, que tendo se convertido em um filho da Luz, viria a ser um exemplo para quem ainda não entrou na Luz ou Consciência Espiritual. Esta é a missão de todos na Senda em direção à realidade, ao fim. Muitos dos escritos nos capítulos de Atos tratam sobre esta Luz que é Deus, procedente de Deus e na qual o homem deve submergir-se; a que deve encontrar dentro de si mesmo a fim de que possa se converter em um dos Irmãos da Luz, em um filho de Deus; isto é, biblicamente, alcançar a Salvação de sua Alma.

E não é maravilha, porque o mesmo satanás se disfarça como anjo de Luz” (2Cor 11:14).

Esta é possivelmente uma das mais importantes e positivas declarações da Bíblia, porque esclarece que satanás não é maligno, o “diabo”, senão que é de fato um lúcifer, o incitador do homem para que adquira o conhecimento que lhe conduzirá ao despertar Espiritual, unindo Cristos à Manifestação, incitando a que o mortal se esforce para converter-se em um dos Irmãos da Luz, em um filho de Deus. Quanto a uma dissertação mais clara e informativa, remeto o Neófito ao meu texto A Grande Obra.

Porque em outro tempo eras trevas, mas agora sois Luz no Senhor; andem como filhos de Luz” (Ef 5:8).

Esta é a doutrina básica da Filosofia do Fogo – ou Luz. O homem, massivamente, com poucas exceções, vive nas trevas; isto é, em pecado, nos males da natureza carnal. Escutando a voz de João e tornando-se mentalmente conscientes de que há mais do que a vida de carne; mediante o desejo com sentimento, fazendo o esforço necessário para despertar a adormecida Centelha Divina Interior, os homens a integram na Consciência, na Luz, convertendo-se em Filhos da Luz e Irmãos da Luz, como tão claramente destacou São João.

“… todas as coisas, quando são postas em evidência pela Luz, são feitas manifestas; porque a Luz é o que manifesta tudo” (Ef 5:13).

“… vós sois linhagem escolhida, Sacerdócio real, nação santa, povo peculiar; para que anuncies as louvações daquele que os chamou das trevas à sua Luz admirável” (1Pd 2:9).

Tal é o Sacerdócio de Melquisedec. Este é, assim como aqueles que o seguem, um povo “peculiar”, porque se recusa a ceder aos males que geralmente governam os homens. São Santos, se convertem em Santos, por meio da transmutação dos males dentro deles em Luz, pois eles, mediante seu exemplo, incitam aos demais a seguir a mesma Senda. Estes seguiram a Paulo, que, a princípio, se recusou a aceitar a doutrina da Luz; porém, por uma compulsão interior, se converteu à Luz, embora tenha sido necessária uma sacudida para que ele despertasse à realidade, devido a sua personalidade extremamente teimosa.

Certamente dos anjos disse: Ele que faz de Seus anjos espíritos, e a Seus ministros Chamas de Fogo (Hb 1:7).

Arcanamente, Melquisedec é a personificação do Espírito Santo como um Espírito Divino; a Luz ou Fogo Divino; isto é, o Cristos ou a Centelha Divina no homem desperto e uno com a Manifestação. Ele se preparou para a ordem ou estado supremo como Sacerdote perpétuo (mestre e guia da humanidade), para servir no Altar do Templo, aonde, como no Santo dos Santos, o Fogo Branco puro da Alma arde como uma Luz Inefável.

Com coluna de nuvem lhe guiaste de dia, e com coluna de Fogo, de noite, para dar Luz ao caminho por onde haviam de ir” (Ne 9:12).

Aqui o Senhor Deus se manifesta como Fogo e Luz, sempre como uma ou ambas destas manifestações Espirituais.

Tendo a Luz como base de seu simbolismo, a Filosofia do Fogo é, às vezes, considerada erroneamente, pelos não informados, como uma filosofia exclusivamente materialista e objetiva. Mas esta representação é um sistema para apresentar os grandes Mistérios; signos tangíveis para sugerir ideias abstratas. A Filosofia do Fogo é objetiva e materialista no que concerne ao uso do simbolismo, porém metafísica no que concerne às grandes verdades abstratas e Mistérios que dominam o universo. A metafísica e o simbolismo são um meio para um fim. A Filosofia do Fogo, através das Escolas Secretas, oferece estes segredos dos grandes Mistérios como incentivo e instrumentos para o autodespertar, o autoaprimoramento, o autoavanço e o autodomínio.

O conhecimento – incluso o dos grandes Mistérios – não se transmite pelo conhecimento em si, mas sim com a finalidade de despertar e desenvolver o Neófito, de modo que, compreendendo as possibilidades do bem que até então repousavam latentes dentro dele, possa desenvolver poderes para o avanço e o bem-estar da humanidade.

O conhecimento pleno do Eu implica numa captação cabal da significação do Eu no grande esquema das coisas. Esta é a sorte de conhecimento que a Filosofia do Fogo – Luz – traz ao Neófito. O conhecimento dos segredos dos grandes Mistérios significaria pouco para o Iniciado se não lhe permitisse trabalhar dentro dele o maravilhoso processo de Regeneração que separa o Iniciado das massas. O processo de Regeneração fracassaria em sua finalidade se não conduzisse constantemente o Iniciado a manter diante dele o bem-estar da humanidade.

“… pois o Senhor será tua Luz perpetua, e os dias de teu luto terminaram” (Is 60:20)

Nota:

* Excertos editados do livro “A Filosofia do Fogo”, de Swinburne Clymer, capítulos “Preceitos bíblicos” e “A Essência da Filosofia do Fogo”. Citações bíblias e grifos conforme edição original (2ª ed., 1980).