Discurso cabalístico - Elias

jun/24

CABALÁ

Discurso Cabalístico do Profeta Elias*

Zohar

És Tu, oh Mestre do Mundo, Quem produziu as Dez Perfeições.

E nós as denominamos Sefiroth.

Para iluminar com elas os Mundos ocultos que não aparecem e os Mundos que aparecem.

E por elas Tu te subtrais aos filhos dos homens.

E Tu as unes e as manténs juntas.

E visto que em Ti está a origem e o centro, qualquer um que separasse as Dez Sefiroth uma da outra seria culpado, como se ele Te rasgasse e Te fizesse em pedaços, oh Mestre do Mundo.”

Comentário do Zohar:

Iahveh, louvado seja, fez emanar, tirando-as de sua própria Essência, as dez Perfeições, que são as dez Sefiroth, instrumentos de suas perfeições para o aperfeiçoamento dos mundos.

Pois por elas criou, formou e fez tudo o que foi criado. O Mundo de Briah (Criação) formou o Mundo Yetzirah (Formação), e fez o Mundo de Assiah (Ação). E o profeta quer dizer que as dez Sefiroth são para Iahveh, louvado seja, como um instrumento na mão do artífice, para aperfeiçoar, por meio dele, todas as Suas obras.

Essas Perfeições que Ele, louvado seja, fez emanar, produzidas por Sua própria Essência, chamamos Sefiroth. A intenção de Elias, de abençoada memória, é fazer compreender que não nos devemos equivocar, pensando e dizendo que as dez perfeições são separadas dele, como a ferramente é separa do artífice. Quando o artífice precisa trabalhar, pega a ferramenta, e quando termina, a depõe e deixa em um local onde a conserva a fim de retomá-la quando tiver novo trabalho a fazer; pois a ferramenta não está irremediavelmente unida à mão do artífice por uma união contínua, eterna. Poderias, então, cair em erro se pensasses o mesmo das Sefiroth, comparando-as absolutamente com as ferramentas que são postas de lado à vontade, e dizer que elas são uma coisa à parte de Iahveh, louvado seja. Eis por que Elias, de abençoada memória, adverte-nos de que não é assim.

Com efeito, as dez Perfeições das quais tratamos são chamadas por nós Sefiroth, que significa Luzes que brilham. Elas brilham com a própria Essência de Iahveh, louvado seja; apoiam-se nele e são inerentes a ele como o fogo à brasa ardente. O fogo está na brasa, e não poderia subsistir sem ela. Dá-se o mesmo com as Sefiroth, que são chamas sagradas, luzes que iluminar Sua morada oculta, tesouros santos da Essência de Iahveh, louvado seja. Elas são todas atadas, inerentes, ligadas, unidas à Iahveh, louvado seja, por uma união, uma conexão, uma ligação incessante, eterna; e também são unidas umas às outras, inseparáveis por toda a eternidade. Elias as denomina Sefiroth, que significa Luzes, Esplendores. A raiz desta palavra significa iluminar, brilhar com um clarão de Luz, como mostra o texto sagrado do Êxodo 24:10 e Jó 4:7. É o que Elias nos dá a entender por estas palavras.

Luzes para iluminar, por meio delas, os mundos escondidos e ocultos, que são:

1) Os Mundos de Briah (2º Mundo) denominamos o trono de sua glória, em número de dez tronos, dez mundos em Briah. Sua essência e seu modo de ser estão acima de nossa compreensão, assim o demonstrarei na parte referente ao mistério dos quatro mundos Atsiluth, Briah, Yetzirah e Assiah.

2) Os Mundos de Yetzirah (3º Mundo) formam os dez mundos dos anjos. São também mundos ocultos, velados aos olhos materiais.

Ora, estes dois Mundos, o de Briah e o de Yetzirah, chamam-se mundos que não aparecem. Estes, por sua vez, servem para iluminar e criar, não só por seu intermédio, mas também por sua própria substância, os mundos aparentes, perceptíveis aos sentidos e compreensíveis pela inteligência dos seres materiais de que se compõem os mundos de Assiah (4º Mundo); pois Assiah compreende também dez mundos, dez esferas, que são dez céus. Os Doutores nos ensinam que estes dez céus estão a uma distância, uns dos outros, de quinhentos anos de marcha a pé, cada um deles é um mundo à parte, e envolve toda a obra dos seis dias da Criação, isto é, as esferas e tudo o que elas contém até o fundo da terra, as estrelas, os planetas, os cascões, as forças da impureza, o demônio dos maus pensamentos. Eis o que se denomina mundos aparentes.

Como Iahveh, louvado seja, fez todas as ações por intermédio de suas Sefiroth, louvadas sejam, e de certa maneira se ocultando na ação, a qual só se manifesta pelas Sefiroth, louvadas sejam, e não por si próprio, ele se subtrai e se oculta por detrás delas, assim como um homem que se oculta da vista cobrindo toda a sua pessoa com uma vestimenta, de maneira que só sua vestimenta seja visível. Deus só se dá a conhecer por seus atos, os quais se operam através de suas Sefiroth, que são sua vestimenta.

As Sefiroth só se manifestam para agir sobre os mundos; sua ação, entretanto, não é independente de Iahveh. Não se deve pensar e dizer que as Sefiroth operam sozinhas, e que Iahveh fica alheio ao que elas fazem. Seria uma impiedade, pois elas só operam em virtude de sua toda poderosa influência, que as prende e as une numa unidade perfeita, absoluta. Elas estão ligadas a ele como o fogo está ligado à brasa. Ele é, pois, a origem e o motor de toda a sua atividade.

Iahveh é o centro das chamas de que brilham as Sefiroth, pois elas só resplandecem da grande claridade sem limites, e Ele mesmo se reveste da força das luzes que saem Dele, para operar por elas todas as suas ações; sendo assim, qualquer um que separasse uma da outra, dizendo que a força da luz que está na Sefirah não é a da outra Sefirah, que possui uma potência de luz diferente, dividindo, separando e desunindo as Sefiroth, cometeria o grande pecado de cortar, de dividir, de separar a Essência única de Iahveh, louvado seja. Porque Ele é a unidade mais simples, e as Sefiroth emanam desta simples Unidade.

* Excerto do Zohar conforme consta no texto "A Cabala dos Hebreus", do Cavaleiro Drach (continuação ao texto publicado na edição anterior).