A Perseguição aos Cristãos

Kayhiel José

mar/24

Descrição da Coluna:

ATUALIDADES

Perseguição aos Cristãos: a Conveniência da Ignorância*

Kayhiel José

A perseguição aos cristãos é uma realidade global que afeta mais de 360 milhões de indivíduos em todo o mundo. Ela ocorre em contextos variados, incluindo guerras, tensões étnicas e religiosas, conflitos políticos, corrupção e pobreza, entre outros. Desde os primeiros dias da fé cristã, quando os seguidores de Jesus eram esporadicamente alvo de opressão, até os momentos mais sombrios, como a perseguição durante o governo do imperador Nero em Roma, os cristãos enfrentaram desafios extremos por causa de sua fé.

No século 2, a perseguição tornou-se uma parte intrínseca de suas vidas, com a igreja primitiva crescendo rapidamente e sendo culpada por muitos problemas no Império Romano. Diocleciano, em 303 d.C., ordenou a destruição das igrejas e a prisão de clérigos, intensificando ainda mais a perseguição.

A paz finalmente chegou com Constantino em 313 d.C., quando o cristianismo foi adotado como religião oficial, mas os missionários que se aventuraram fora do Império Romano enfrentaram opressões. Os séculos seguintes foram marcados por incertezas, com desafios vindos de tribos bárbaras e o islamismo.

O século 20 trouxe muitas hostilidades, especialmente sob regimes comunistas, como na Rússia e na China. Esta doutrina ateísta levou à perseguição violenta dos seguidores de Jesus, com igrejas sendo alvo desde o início da Revolução Bolchevique em 1917, levando à expulsão de missionários estrangeiros. Durante décadas, os cristãos enfrentam discriminação, tortura e prisão sob a influência de Pequim e Moscou, bem como em outros países que adotam a mesma ideologia, como Coreia do Norte, Vietnã e Cuba. O nazismo alemão também subjugou a igreja, embora alguns tenham resistido.

A pandemia de COVID-19 acarretou novos desafios, com relatos de discriminação em países como Índia, Nepal e Vietnã. Na África Subsaariana, grupos extremistas como Boko Haram e Al-Shabaab atacaram vilas cristãs com o sórdido e repugnante pretexto de que seriam as responsáveis pelo flagelo do coronavírus na região.

A perseguição aos cristãos ao longo da história é uma trágica narrativa de fé e resiliência, com revezes que persistem em muitas partes do mundo até os dias de hoje, e pode se manifestar tanto através da violência quanto da pressão – e, muitas vezes, esta pressão pode ser tão intensa que os fiés escondem sua fé, resultando em atrocidades menos visíveis, camufladas.

Um exemplo disso é a situação nas Maldivas, onde enfrentam uma intensa intimidação de várias fontes, incluindo o governo, amigos, familiares e vizinhos, tornando difícil a expressão pública de sua fé. Essa coerção sutil pode ser tão eficaz quanto a violência na tentativa de destruir a comunidade.

Nesses últimos anos, a perseguição apresentou várias tendências alarmantes em diferentes partes do mundo. A África Subsaariana testemunhou um aumento significativo da violência, exacerbada pela instabilidade política e econômica. O extremismo islâmico na região impõe pressões severas, resultando em deslocamentos forçados, assassinatos e violência contra mulheres.

Boko Haram, uma organização militante jihadista com base no nordeste da Nigéria, tem sido responsável por inúmeros ataques direcionados a cristãos e outros civis na região. Recentemente, em 15 de março, militantes do Boko Haram invadiram a vila de Lambram, perto da fronteira entre Camarões e Nigéria. O ataque resultou na morte de Mogozo Tehawa, um cristão de 45 anos que foi baleado na cabeça enquanto defendia sua casa. Este incidente destaca a ameaça contínua enfrentada pelos cristãos na região, já que seus meios de subsistência e vidas são continuamente ameaçados pela violência extremista.

Além disso, o flagelo do sequestro tornou-se um empreendimento lucrativo para grupos criminosos e extremistas na Nigéria. Em outro incidente trágico em 7 de março passado, mais de 300 crianças e adolescentes foram sequestrados de uma escola primária e secundária em Kuriga, no estado de Kaduna. Embora algumas vítimas tenham sido resgatadas, 287 permanecem em cativeiro. Esse padrão de sequestros, particularmente prevalente no norte da Nigéria, afeta desproporcionalmente os cristãos, destacando a perseguição direcionada que eles enfrentam.

A perseguição se estende além das fronteiras da Nigéria, como visto nos ataques devastadores a vilarejos em Burkina Faso em 25 de fevereiro. Grupos extremistas, provavelmente afiliados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico, massacraram 170 pessoas em Komsilga, Nodin e Soroe, com cristãos provavelmente entre as vítimas. Além disso, uma igreja em Essakane foi atacada no mesmo dia, resultando na morte de 14 homens e um menino. Esses ataques implacáveis não apenas ceifam vidas inocentes, mas também destroem a esperança das comunidades que lutam para se reconstruir em meio à adversidade.

Na China, um modelo autoritário e de controle digital está impactando a comunidade internacional, e agora tenta redefinir noções tradicionais de direitos humanos, sob a falácia do desenvolvimento econômico, inclusive atraindo líderes de diversos países. Em outras palavras, o maquiavelismo chinês, com o apoio de cúmplices estrangeiros, busca relativizar a dignidade da pessoa humana em detrimento de uma suposta tutela coletiva e progresso. Isso levanta preocupações sobre a liberdade religiosa em nível global.

Pequim tem implementado uma vigilância digital intensa, censurando conteúdos religiosos, monitorando atividades online e até mesmo utilizando aplicativos de rastreamento para controlar os movimentos dos cidadãos. Essas medidas visam restringir a expressão religiosa e sufocar qualquer forma de dissidência, inclusive em comunidades cristãs não registradas, conhecidas como igrejas domésticas. Além disso, cristãos que pertencem a grupos étnicos minoritários, como os uigures e os tibetanos, enfrentam uma caçada ainda mais severa, com campos de reeducação forçada e restrições extremas de culto e profissão de fé.

Na América Latina, a Nicarágua juntou-se à lista de países algozes, onde o governo reprime a oposição, incluindo a igreja, resultando em incidentes violentos e deslocamentos forçados. Populações indígenas convertidas ao cristianismo enfrentam riscos adicionais devido à pressão das lideranças locais.

No Oriente Médio, embora haja alguns sinais de mudança, a situação continua desafiadora, com crescente controle e vigilância por parte dos regimes autoritários. Os cristãos que abandonam o islã enfrentam ameaças e perseguição. A influência da Irmandade Muçulmana diminuiu, mas o totalitarismo está ressurgindo, com monitoramento intensificado em nome da COVID-19.

Como mencionado anteriormente, governos em diversas partes do mundo aproveitaram a pandemia como uma desculpa para intensificar a opressão. Sob o pretexto de medidas de segurança relacionadas à saúde, muitos regimes autoritários impuseram restrições draconianas às atividades religiosas, incluindo o fechamento de igrejas, limitações à reunião de fiéis, proibição de eventos e a vigilância digital sobre as congregações, monitorando suas atividades online e ampliando o controle na internet. Essas medidas não apenas limitaram a liberdade religiosa, mas também aumentaram sua vulnerabilidade, tornando-os alvos de acusações e detenções arbitrárias sob o pretexto de desrespeitar as restrições de saúde pública.

A falta de exposição destes fatos por parte da imprensa em geral é profundamente preocupante e revela uma lacuna significativa na cobertura jornalística global. Essa drástica realidade afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e sua invisibilidade na mídia sugere descaso e desumanidades alarmantes. O silêncio midiático é injustificável, pois priva o público de informações cruciais sobre um problema global urgente. A imprensa tem a responsabilidade de dar voz às vítimas de perseguição e expor as violações dos direitos humanos, e sua falha em fazê-lo demonstra, mais que tudo, que suas paixões ideológicas estão acima de seu deveres humanos.

Em face destas complexidades e desafios, torna-se evidente que a perseguição aos cristãos é uma realidade global que precisa ser exposta, conhecida e combatida. Desde as comunidades primitivas até a atualidade, a resiliência e a coragem dos seguidores de Jesus têm sido postas à prova, enfrentando opressões que variam de formas sutis a manifestações brutais de violência. No entanto, apesar das dificuldades, a história desta comunidade é também uma história de fé e determinação, que continua a inspirar a busca pela liberdade e dignidade em todo o mundo. É crucial que a sociedade global permaneça vigilante e tome medidas para proteger valores arduamente conquistados ao longo dos séculos, garantindo que a intolerância religiosa seja condenada e enfrentada com determinação.

* Com informações do site "Portas Abertas"