A Palavra Perdida

jun/24

METAFÍSICA

A Palavra Perdida*

Jean Debuis

Segundo os místicos, há muito tempo existia uma língua original na Terra e que agora é procurada sob o nome de “a Palavra Perdida”.

A verdadeira Palavra, a do “Fiat Lux” da Bíblia, não é uma palavra pronunciada por um velho sentado no seu trono, mas a Energia constantemente irradiada pelo Ser informe.

Fiat Lux é, em certo sentido, apenas a submissão das vibrações desta energia seguindo a lei ditada pelo Ser, a Lei da Harmonia. Dali fluíram os Seres, os Elohims, aqueles que usarão esta energia para criar os mundos, os corpos dos homens, a luz do sol, que é apenas um pálido reflexo da energia do Fiat Lux.

Até o tempo, o espaço e a forma resultam deste ordenamento da Energia não manifestada que, sem esta operação, só nos pode parecer o Nada.

Esta Energia é apenas vibrações e tudo o que existe é, portanto, apenas um conglomerado de vibrações. Nosso corpo, nossa carne, nosso sangue são apenas vibrações e, portanto, estão sujeitos à lei última das vibrações: Harmonia.

Geralmente esta palavra ‘harmonia’ desperta uma ideia de música ou de desenho, mas na realidade a harmonia é algo muito mais geral e muito mais profundo e que vai muito além destes aspectos estéticos que geralmente consideramos ser o seu campo. Uma reação química, uma explosão nuclear, a nossa saúde são apenas consequências da Harmonia Suprema. No entanto, a música é um domínio de fácil acesso e um dos meios mais fáceis de explicar o que é harmonia.

Então, neste plano, podemos ter uma ideia básica de harmonia ouvindo um piano. Se tocarmos as notas uma após a outra, notamos que algumas notas, embora diferentes, parecem ter analogias.

O que caracteriza o ‘sol’ como qualquer outra nota é o seu número de vibrações por segundo. Se duplicarmos o número de vibrações, obtemos um novo ‘sol’, e se duplicarmos novamente este número, obtemos um novo. Cada nova nota não modifica o caráter da vibração, mas provoca a sua evolução.

Agora imagine que o teclado do piano seja longo, muito longo. Suas escalas se estendem ao infinito e, a cada nota ‘G’ de uma nova escala, o número de vibrações dobra. Logo, após 5 ‘Gs’ sucessivos, não ouvimos mais nada e para nós, humanos, as teclas parecem não surtir efeito. Se fôssemos suficientemente perseverantes, chegaria um momento em que, ao tocar numa tecla, não criaríamos um som, mas sim vibrações de rádio, de calor e, finalmente, após 42 ‘soles’ após o nosso primeiro ‘sol’, surgiria uma luz vermelha.

Vamos imaginar que nosso teclado se estende ainda mais: se uma tecla ‘dó’ criar hidrogênio e uma ‘lá’, oxigênio, e fizéssemos um acorde entre estas duas notas, seria criada água.

Tudo o que é criado, portanto, são apenas acordes de notas no teclado universal. Se fizermos o mesmo arranjo em faixas sonoras audíveis, teremos o som correspondente a cada coisa, e este é o seu verdadeiro nome na linguagem original universal, na linguagem da Palavra perdida. Assim como, como acabamos de ver, G é a nota correspondente à luz vermelha, um som contendo os mesmos números que C e A será o verdadeiro nome da água.

O homem iniciado é um transformador de energia, o leigo que pronuncia uma palavra sacode o ar do mundo físico e sua palavra tem pouca ressonância nas altas frequências. Por outro lado, aquele que é iniciado restabeleceu em si as ligações entre os vários planos de consciência, ou seja, com os vários níveis vibracionais do universo, e quanto mais avança no caminho iniciático, mais ele atinge as freqüências mais altas, e melhores são as conexões entre seus vários planos interiores.

Portanto, diferentemente do leigo, o homem iniciado, ao falar, abalará os altos níveis vibracionais e se sua palavra estiver em conformidade com a Língua Original, ele criará então a coisa designada pela palavra porque, a partir dele, por harmonia, irradiar as vibrações que são a coisa. Assim, na Bíblia entendemos melhor o Gênesis onde o homem deu nome aos animais, ou seja, os criou simplesmente pronunciando seu verdadeiro nome. Moisés, no deserto, pronunciou o nome autêntico da água que jorrava nas areias.

Assim, entendemos que aprender a Língua Original como aprender Inglês ou Alemão não faz sentido. A Linguagem Original só é útil se o homem tiver primeiro restabelecido dentro de si a sua harmonia interior e neste caso a Palavra Perdida é ao mesmo tempo conhecimento e poder, e como é a própria Harmonia, inclui o Amor.

A história da Torre de Babel e a confusão das línguas é a perda da Língua Original que se torna a Palavra Perdida, que retira temporariamente do homem os meios de uma ascensão prematura e o obriga a vivenciar plenamente o plano da matéria, já que a perda da Palavra cortou momentaneamente sua consciência dos planos superiores.

Resumindo, a Língua Original é diretamente uma imagem vibracional da realidade e, com a reintegração, torna-se realidade para o homem. É por isso que se diz que, nesta linguagem, cada palavra é Verdade porque a Palavra É.

Nas línguas do nosso tempo, as palavras têm pouco ou nada a ver com as coisas que simbolizam. Portanto, ‘mesa’ não tem ressonância real com o que é ‘mesa’. A palavra ‘mesa’ é um símbolo artificial que por convenção designa esse objeto conhecido como ‘mesa’. Se alguém ignora a linguagem, isto é, as convenções, a palavra não tem significado para ele. Um chinês ou um esquimó não sabem o que a palavra ‘mesa’ pode designar.

Outra coisa a notar é que a linguagem é apenas um conjunto de convenções que se baseiam em si mesmas. Ou seja, se quisermos saber o que significa uma palavra, abriremos um dicionário onde outras palavras tentam explicar esta primeira palavra. Assim, cada palavra só tem valor através de suas ligações com outras palavras e o conjunto de palavras conhecidas por uma pessoa é como uma gigantesca teia de aranha onde cada palavra é um nó que se liga às outras palavras, aos outros nós. É da superfície desta teia que depende o grau de compreensão que temos das palavras das línguas da Terra. Mas todas estas palavras são, em qualquer caso, apenas convenções sem qualquer valor absoluto. Se não conhecemos a convenção – é o caso de uma língua estrangeira que não conhecemos – a língua já não tem qualquer valor para nós.

Portanto, não é através da linguagem nem da leitura que podemos adquirir conhecimento real, porque as convenções permanecem no domínio das convenções. Esta linguagem só pode nos levar além, através da experiência pessoal. Quer esta experiência seja a da vida quotidiana ou a do laboratório, ela gradualmente transforma a linguagem convencional em conhecimento das leis da natureza, mas poucas pessoas tomam consciência deste fenómeno.

Assim, o que todos sabem ou pensam saber divide-se em duas partes: o convencional que para muitos representa 98% do seu conhecimento, e o Conhecimento das leis da natureza, ou seja, a Verdade ao nosso nível de consciência, que é o único conhecimento eterno e tangível em nós e que é tão fraco em muitos.

Atualmente, por confusão deliberada, poucas pessoas separam o real do convencional. Mas se nos acontecimentos da nossa vida meditássemos para saber o que é real e o que é convencional, perceberíamos que muitos fracassos advêm de dar prioridade ao convencional sobre o real, enquanto o contrário é uma obrigação e uma condição para sucesso.

Devemos sempre dar prioridade às leis da natureza sobre as convenções humanas.

Como podemos, através da nossa linguagem convencional, encontrar o verdadeiro conhecimento?

Em primeiro lugar, esta língua é convencional na sua interpretação intelectual, mas os sons desta língua são o que são. Então, se formos além do domínio intelectual, a música tem um efeito interno porque é um reflexo da Palavra Perdida, assim como dos mantras AUM, RA, MA. Mas mesmo nas nossas conversas quotidianas, o som das palavras mantém o seu valor: o A vibra a nossa essência primária, o R é ativo, o M é passivo. Se utilizarmos, portanto, os sons adequados, mesmo que não tenham significado de acordo com a nossa linguagem intelectual, provocamos ressonâncias nos nossos centros psíquicos e o seu despertar progressivo corresponde a uma elevação do nosso nível de consciência.

* Tradução do editor.