A Magia do Som e o Som na Magia
A Magia do Som e o Som na Magia*
Israel Regardie
Há vários aspectos do procedimento mágico no trabalho cerimonial que é necessário considerar. Por exemplo, o fato de que o som possui um poder criativo ou formativo já foi amplamente reconhecido e conhecido pela maior parte da humanidade. O mantram hindu e seus efeitos sobre o cérebro e as ramificações nervosas do corpo têm sido repetidamente o objeto de considerável quantidade de experimentos científicos e leigos. Uma teoria racional sobre o mantram sagrado é que sua ação no cérebro pode ser comparada à de uma roda girando rapidamente, cujos raios nenhum objeto pode atravessar. Acredita-se que, quando o mantram está firmemente estabelecido, e o cérebro automaticamente adota seus acentos líquidos, todos os pensamentos, incluindo o do próprio mantram, são expulsos, e na mente esvaziada de todo conteúdo, a experiência mística pode ocorrer. Há outra teoria, sustentada por outras escolas ocultistas, que afirma que a vibração gerada por um mantram tem um efeito purificador em toda a constituição do homem; que, por meio de sua ação vibratória, os elementos mais grosseiros no corpo são gradualmente expelidos, ocorrendo um processo de refinamento que afeta não apenas o corpo de carne e osso, cérebro e nervos, mas também o Corpo de Luz e toda a estrutura mental dentro do alcance de sua ação. Na admirável biografia de Milarepa, o Yogi Budista, publicada pela Oxford University Press, há a seguinte nota de rodapé: "De acordo com a escola Mantrayana, está associado a cada objeto e elemento da natureza... uma taxa particular de vibração. Se isso for conhecido e formulado em um Mantra e usado habilmente por um Yogi perfeito, como Milarepa foi, acredita-se que ele é capaz de impelir as divindades menores e elementais a aparecerem, e as divindades superiores a emitirem telepaticamente sua influência divina em raios de graça."
Na Magia, acredita-se que a vibração de certos nomes de deuses ou nomes divinos conduz à produção de fenômenos psicológicos e espirituais. "Por quê?", pergunta Blavatsky em sua Doutrina Secreta. Respondendo à sua própria pergunta, ela afirma: "Porque a palavra falada tem uma potência desconhecida, não suspeitada e desacreditada pelos 'sábios' modernos. Porque som e ritmo estão intimamente relacionados aos quatro elementos dos antigos; e porque tal ou outra vibração no ar certamente despertará poderes correspondentes, cuja união produz bons ou maus resultados, conforme o caso."
A lenda relacionada ao Tetragrama hebraico é interessante. Aquele que conhece a pronúncia correta de YHWH, chamado de Shem ha-Mephoresh, o Nome Impronunciável, possui o meio de destruir o universo, o seu próprio universo particular, e lançar essa consciência individual no Samadhi. Além disso, a teoria mágica afirma que a vibração gerada pela voz humana tem o poder não apenas de moldar a substância plástica da Luz Astral em formas e figuras variadas, dependendo do tom e do volume, mas também de atrair a atenção de entidades metafísicas e Essências para essa forma.
O poder do som pode ser provado com facilidade por meio de alguns experimentos triviais, mas muito interessantes. A pronúncia da monossílaba "Om" em uma voz aguda será sentida, sem dúvida, vibrando de forma perceptível tanto na garganta quanto no peito. Com a repetição, a capacidade de aumentar a potência ou a frequência das vibrações e a área de sua detonação pode ser consideravelmente ampliada. Com uma certa quantidade de prática cuidadosa, sempre com o exercício da inteligência, o praticante descobrirá que é capaz de vibrar uma única palavra de modo a fazer todo o corpo estremecer e tremer sob o impacto de seu poder. Por outro lado, a prática também permitirá ao estudante limitar, à vontade, a vibração a uma determinada área ou localidade do seu corpo. Não é preciso dizer que deve-se sempre empregar um grande cuidado, pois não é desejável que essa prática resulte em que o corpo seja despedaçado ou destruído por vibrações catastróficas.
Existem exemplos bem conhecidos do poder destrutivo do som causado pela detonação de trovões ou pelo estouro de explosivos. Há uma história repetida com frequência, que vale a pena mencionar aqui, sobre um truque realizado por um grande cantor. Ele tocava levemente uma taça de vinho com a unha para que ela emitisse um som; então, captando a nota com sua voz, ele cantava a mesma nota com a boca bem próxima da taça. Após um momento, quando sua voz estava vibrando em uníssono com a nota emitida pela taça, ele mudava repentinamente para uma nota mais alta, e a taça, sem qualquer aviso, se despedaçava em fragmentos. Ele estava brincando com a lei da vibração, pois todas as coisas, visíveis e invisíveis, estão dentro de seu alcance, e todo objeto concebível existe em um plano definido, possuindo uma taxa diferente de vibração. Toda massa orgânica e inorgânica é composta por uma infinidade de pequenos centros de energia que, para aderirem uns aos outros, devem vibrar juntos. A mudança dessa vibração ou destrói a forma, ou provoca mutações e alterações na forma.
Sendo o som dotado de um aspecto destrutivo, segue-se que ele também possui um de formação e criação, a ser descoberto por meio de experimentos constantes e pacientes. O poder formativo real pode ser demonstrado com bastante facilidade. O leitor pode, por exemplo, espalhar um pouco de areia fina sobre a caixa de ressonância de um violino e, sem perturbar a areia, passar o arco levemente sobre uma das cordas. Descobrirá que a vibração exerce uma influência formativa, pois, com o som da nota e sua amplificação na caixa de ressonância, a areia se organiza em curiosas formas geométricas; um quadrado, por exemplo, poderá se formar claramente; ou um triângulo, uma elipse, ou um desenho que se assemelha à estrutura de um floco de neve—cristalino e de rara beleza. O mesmo experimento pode ser realizado sobre uma folha de vidro e, dependendo se o arco é puxado lentamente ou rapidamente contra a borda, levemente ou com muita pressão, assim será a forma da areia. No violino, uma nota suave e profunda naturalmente produzirá uma forma sonora diferente de um longo uivo agudo; a brusquidão tem um valor de forma diferente de um vibrato lento. Em algum lugar dos escritos de Madame Blavatsky, há o testemunho de que ela mesma, em certo momento à beira da morte, foi trazida de volta à vida e curada de suas doenças por meio dos poderes inerentes ao som. Todas essas coisas mostram que o som realmente possui um valor criativo, e deve ser o objetivo de todo aspirante a Mago, por meio da prática, determinar qual tom de voz é mais adequado para o trabalho mágico. A experiência mostra que um zumbido agudo dos nomes a serem pronunciados é o método mais satisfatório, sendo necessária uma voz que vibre em vez de pronunciar claramente.
A vibração dos nomes divinos é, portanto, um elemento essencial na prática da Magia, pois, por um lado, o conhecimento do nome de qualquer ser—e por conhecimento inclui-se a habilidade de vibrá-lo e pronunciá-lo corretamente, bem como a compreensão de suas implicações cabalísticas—é possuir uma espécie de controle sobre ele. O conhecimento do nome pode ser adquirido pela aplicação dos princípios cabalísticos, de modo que no nome possa ser encontrada uma síntese das forças e poderes inerentes a ele. Em uma palavra está contida a Magia, e uma palavra propriamente pronunciada é mais forte, diz Lévi, que os poderes do céu, da terra ou do inferno. A Natureza é comandada com um nome; os reinos da Natureza também são conquistados, e as forças ocultas que compõem o universo invisível são obedientes àquele que pronuncia com entendimento os nomes incomunicáveis. “Para pronunciar esses grandes nomes da Cabala, de acordo com a ciência, devemos fazê-lo com total compreensão, com uma vontade inabalável e com uma atividade que nada possa refrear.”
A vibração dos nomes divinos, então, constitui uma das divisões mais importantes em uma invocação cerimonial. Os incensos, perfumes, cores, sigilos e luzes ao redor do círculo mágico ajudarão a evocar a ideia ou o espírito desejado da imaginação e a manifestá-lo em uma forma apropriada, coerente e tangível para o exorcista. Não basta haver intenção e pensamento; deve haver a expressão concreta do pensamento em uma ação ou palavra que, para a ideia, deve ser como um logos. Para ilustrar o modo de vibração, suponhamos que um exorcista deseje invocar os poderes pertencentes à esfera de Gevurah. Seu planeta será identificado como Marte; sua qualidade essencial é uma de energia e força cósmica, resumida na divindade Horus, seu arcanjo será Kamael, seu espírito Bartsbael, e a Sephirah à qual esses são atribuídos carrega o Nome Divino Elohim Gibor. Quando, na cerimônia mágica instigada pelo Teurgo, chegar o momento de pronunciar o nome divino, que ele inale muito profundamente, devagar e com força. No momento em que o ar do exterior atingir as narinas, deve-se imaginar claramente que o nome de Deus, Elohim Gibor, está sendo inalado com o ar. Imagine o nome sendo elevado em grandes letras de fogo e chama, e à medida que o ar lentamente enche os pulmões, deve-se imaginar que o nome permeia e vibra por todo o corpo, descendo gradualmente pelo tórax e abdômen, pelas coxas e pernas até os pés. Quando a força parecer atingir a parte mais baixa das pernas, expandindo-se e se espalhando por cada átomo e célula do pé — e a prática tornará essa façanha de imaginação menos difícil do que parece — ele deve assumir uma das poses características do deus Horus mostradas nas vinhetas do Livro dos Mortos egípcio. Uma delas, o Sinal do Entrante, consiste em lançar o pé esquerdo à frente e inclinar o corpo para frente, com ambos os braços primeiro levantados até a cabeça e lançados para frente, como se projetando a força mágica em direção ao Triângulo de Evocação. Enquanto esse sinal é assumido, enquanto os pulmões exalam o ar carregado com o nome, este último deve ser fortemente imaginado subindo rapidamente dos pés, passando pelas coxas e pelo corpo, sendo então lançado com força para fora com um grito poderoso de triunfo. Se todo o corpo do Mago sentir-se em chamas com força e energia, e ele ouvir o estrondoso eco do nome ressoando ao seu redor de todas as partes do espaço, pode estar certo de que a pronúncia foi corretamente realizada. O efeito da vibração dos nomes divinos é criar uma tensão na luz astral superior, em resposta à qual a inteligência evocada se apressa. Outros gestos e sinais existem para cada um dos deuses, e um estudo das formas dos deuses egípcios conferirá um conhecimento do que esses sinais são.